PÊLOS E APELOS
Sinto-me, às vezes, como um personagem de Zola. Ora sangüíneo, entregue à egoística satisfação de necessidades imediatas, primárias - animal locupletado e fugazmente acalmado em sua sanha. - Ora nervos e sensibilidade, numa insatisfação perene, a meio gozo.
Eu me pergunto se ainda adolesço. É, talvez...
Noutro dia, estava lendo um escrito bem pueril (como este), feito há uma década. Nele, a certa altura, digo: "hão de crescer-me possibilidades!", qual mancebo que se olha ao espelho todo dia ao levantar-se para ver se no meio das acnes brotou algum pêlo viril, enquanto dormia.
Os pêlos vêm. E com eles, as metafísicas questões existenciais.
Hoje, levanto-me de manhã e vou ao espelho. Há pêlos. Muitos. Apelo, então. Não gosto deles pululando na minha cara, nem das questões que eles trouxeram, durante a noite.
Hão de crescer-me respostas?...
2006, 18 abr