prosa poemando a poesia

Quando na fotografia sobreposta

revejo no silêncio do espelho

as frinchas rachadas do tempo

murmúrios da infância

e horas em que o colo da noite

embalava a cantiga submersa

da língua dentro da água na boca,

êmbolo embrionário de um caos

cais de pólvora

nascendo em si a si mesmo

sequer havia luz ou voz

uma fosforescência de som

ruminâncias de formas

que não se decifra nem se esfinge

rosas alquebradas

lençóis desdobrados

os olhos não souberam o não

o corpo doendo a vida quando crescia

as pontadas no peito

no silencioso vazio solitário do osso

no leito do lento pensamento

onde o sangue corre primitiva coisa-casa

algo em mim dizia que a poesia

vem tangida nos nervos.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 04/11/2009
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