Um Trenó Nas Estepes

Hoje está um daqueles dias escuros e chuvosos, bons para se deitar em um sofá, ou se esticar em um tapete com um bom livro e/ou uma companhia que te supra de amor (sexo) e colo (amor), este para mim o mais importante, posto que embala aqueloutro.

Neste momento em que escrevo, ouço uma música do "Lord of the Dance" que retrata o trafegar de um trenó por um campo nevado das estepes européias. Ouvindo-a, dá prá sentir o vento gelado cortando o rosto enquanto mensuramos a ausência de quem amamos, aquela - ou aquele - que afasta o frio invernal de nossos corações. Em um contraponto, essa música me remete às estepes dos campos do tabuleiro do Amaro, com suas areias escaldantes e suas árvores rústicas, tais quais almas penadas, vigiando os que por ali se atrevem a deambular.

Que nostalgia me dá, lembrar de quando, em menino, sentava, ainda não terminada minha jornada, e ali descansava.

O ciclo interminável da vida continua e, respirante que sou, dela retiro todo o ar que os meus pulmões suportam, acrescido da energia que meu corpo precisa.

Escrito em uma tarde domingueira, aonde a chuva e a solidão acompanhada - a pior delas - me empurraram em direção ao banquinho da "Maria do Mato" e ao cheiro do araçá miúdo. E, como homem não chora, seguro as minhas lágrimas no cantar deste plangente violino, tocado por mãos que se querem divinas.

Vale do Paraíba, meados de Outubro de 2008.

João Bosco