do futuro

...desde criança eu inventava uma fuga (para o bem, pois é um encontrar-se?), e era isso: "só quero saber de amanhã", e o amanhã é como a água que vem molhando os pés, subindo até o nariz, chegando... chegando... como aquela água que vem numa onda gigante lá do horizonte e que eu bem sei: vou engolir toda água até não caber mais e me juntar à areia do fundo onde tem aquela fosforescência... pois não fugirei, vou com os pés afundando na areia macia ao encontro da crina do cavalo no vento, vem o futuro, a onda, o desconhecido mergulho... o fundo noturno cheio de luminância onde a realidade não enxerga nem se vê como os peixes que se adaptam a uma nova forma e sem olhos cintilam no escuro, não precisarei de corpo(?), vou mergulhar no centro da onda, na densidade do nada, sentir a força sugadora do futuro me puxando... puxando... e ele, o futuro (que nasce e morre já), feito água espumosa e quente vai explodir lá atrás de mim e se desfazer na areia quente, e eu já haverei mergulhado fundo - como quem mergulha num texto - , perfurando, silenciosamente, o horizonte à tardezinha (a linha do horizonte vertical) como os corpos que somem no mar solitário das praias confundindo com as primeiras horas vazias da manhã, assim como as ondas que se perdem na areia apagando o nome dos amantes e as palavras debruadas no calor do dia.

[O futuro, às vezes, é como algo tão re_passado]

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 10/11/2009
Reeditado em 11/12/2009
Código do texto: T1916384