DIAS TORTUOSOS

     A minha porta não é tão forte quanto parece! A tranca que a protege não é tão indestrutível quanto se apresenta ser. Possui chave, porém, muito bem guardada. Mesmo assim, há dias em que esta fortaleza treme, parece ruir a meio de tudo e de todos! Ventos fortes que trazem melancolia, tristeza vaga, destino incerto num mundo cada vez mais louco, pronto a nos engolir sem mastigar! Sabe esses dias em que a tristeza sem pedir permissão vem chegando-se, aconchegando-se num ritual silencioso, insano, destrancando meus olhos que se deixam derramar em lagrimas sem sentido, retrancando cantos em encantos mudos, sem brilho... nos amordaçando os sentimentos!
     Então abro a porta de meu coração e procuro você, numa prospecção cintilante de minha alma. Garimpo meus pensamentos e só encontro fragmentos, escuridão rutilante. Se me apareces, mesmo num efêmero momento atemporal, sinto que o sol entra em mim feito fio de navalha afiada, cortando-me a carne, dilacerando desejos, empurrando-me para regiões abissais, descomunais, marginais... intransponíveis!

     Rebuscar teu ser dentro de mim é um exercício gostoso de fazer, embora isto seja o segredo para tanto sofrimento. O que fazer então com minha fortaleza violentada por tua ausência? Angústia sem você, sofrimento em você! Que fruto proibido é esse que minha fome não pode saciar! Ensina-me então a matar esta saudade e te amar nesta distância que separa o ser do ter...

 
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 11/11/2009
Reeditado em 03/10/2016
Código do texto: T1916798
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.