A Hora dos Instantes

As palavras acumulam-se num texto impossível, folhas ao abrir a porta e os olhos na luz caída do real. Escrevo para precipitar um sentido na névoa do dia. E o dia. Este caminho longínquo onde se pode chegar à paisagem dos versos com o ombros leves do vento.

Observar em cada frase esta frase inaudível e perdermo-nos no nosso eco absoluto. A hora dos instantes, quase a última sílaba que ficou por dizer nos lábios distantes. Volver ao corpo a sua sombra, a promessa de inventar outras palavras tão fluentes como a pele.

Estamos de partida, os candeeiros da marginal acendem-se como pálpebras, lembro-me das varandas futuras, as esplanadas marítimas, uma voz encostada ao silêncio. Mais exactamente, o teu riso sem lágrimas, uma disposição para sentir a nudez das veias.

As palavras acumulam-se, a noite mais breve e possível.