Cama vazia
Hoje pela manhã, quando acordei, uma chuva fina e fria
caia lentamente. Ao longe podia-se ouvir o repicar do sino
da igrejinha, que fazia dim . . . dom . . . dim . . . dom . . ., chamando para a reza domingueira. Parecia mais um
lamento do que um convite à oração.
Ainda meio sonolento, abri a janela, e uma lufada de ar frio
veio de encontro ao meu peito. Rapidamente busquei o abrigo
do meu belo e aconchegante cachecol.
A rua que dava acesso à igrejinha estava deserta. Apenas um
vira-lata espreitava por ali, derrubando latas de lixo, fazendo um enorme escarcéu. Fechei a janela e voltei para minha cama, tão querida, confortável e aquecida. Porém , também tão vazia. Melancolicamente me vi a pensar.
Perdido em devaneios, viajei velozmente em busca daquela
menina, cujo olhar e beleza me seduziram. senti sua falta.
Com os olhos semicerrados e a chuva batendo no
telhado, desejei tê-la comigo.
Me bateu uma saudade tão grande. Uma vontade de abraçá-la,
apertá-la em meus braços, beijá-la, sentir o calor de seu corpo, inebriar-me com seu cheiro. Perder-me em suas entranhas.
Um súbito tremor, o sangue fluindo mais rápido, o desejo contido, e a alma feita em pedaços, a janela se abrindo, o vento soprando sobre meu rosto, me fez voltar à realidade nua e crua; eu ali, naquela cama vazia, sozinho, embora aquecido, sentindo no peito o intenso e dolorido frio da saudade.
12/06/06