MADRUGADA


Desce a madrugada e um silêncio de pedra agasalha a minha vila.
O frescor da brisa que agora respiro,é terno.Chega a ser doce.
Tem a pureza das brisas de dezembros longínquos...
Aquelas!...Sorvidas em janelas caiadas,lavadas de luar.
O que as diferencia é a sonoridade.Busco nesta quietude por onde ficaram; ecos de gaitinhas de boca , galos cantando nas laranjeiras...
Não os encontro.
Subitamente,em algum lugar da memória,deparo-me com um doce sabor de "suspiros",retirados do forno de barro.
O sorriso açucarado de dona Labibe com aquêles olhos tão intensamente azuis que causavam inveja às hortências.Aquele sorriso era de satisfação:a fornada de "suspiros" saíra na consistência exata.O olhar da piazada da minha rua era também "muito consistente".
Ah!...Essa ternura doce que me acompanha...Êsse jasmineiro ao lado do portão escorrendo cheiros...Fazem-me um tolo ruminando lembranças.
Respiro a paz do silêncio.Num céu quase nevoento , a lua passa por mim.Ligeira,estressada...Donzela nervosa,desajeitada com o véu das brumas.
Ao Norte uma estrela me espreita;ou seria eu a espreitá-la?
A diferença ,porém, não  tem  a menor importância.Ela esbanja um brilho encantador.
A estrela dos   reis magos, diria  minha vó Izaura,apontando aquele  braço  franzino  para  um  céu estrelado.
Não sei.
A única certeza é de que ela evoca-me um sentimento de paz,atiça-me à sonhos.Muitos sonhos...
Abro os braços e sinto-me tocando o infinito.
Por um breve instante sinto uma presença silenciosa varando meu coração.
Deve ser "a tal felicidade" rsrs...
Quem  sabe!
Vou dormir.