MUTISMO

Hoje, acordei muda.
Descobri-me sem voz e sem vez.
Ontem, inda disse: Te amo!
No cúmplice espelho, admiro
meus olhos,  minha tez...
Afoita, já corro e recorro
ao concurso de "Libras".
Alfabeto das mãos falantes
a substituir garganta e cordas,
enquanto inativo o órgão vocal.

No pensamento repousa o
paginário dos versos  que
no domingo compus  e,
ainda sequer vieram  à  luz.

Mas onde estará minha voz?
Nas cordas vocais  dos
alienados mentais  ou estará
ela num concerto, treinando
um coral oceânico, composto
de gaivotas e do  Albatroz?
Sinto amordaçadas as palavras
e cristalizados os rios  vocais.

Se  Deus deu ao gato, sete vidas,
também contemplou o poeta
com o  dom de sete  vozes.
Talvez eu não esteja muda e,
seja apenas um motim de palavras.
Pode também o meu silêncio
tê-las matado de torpor  e  tédio.

Dela  eu  sou  a  Dona  e  exijo:
Devolvam-me  sem  dano
a  minha  distinta e difusa  VOZ!

jray
Enviado por jray em 16/12/2009
Código do texto: T1981946