MUTISMO
Hoje, acordei muda.
Descobri-me sem voz e sem vez.
Ontem, inda disse: Te amo!
No cúmplice espelho, admiro
meus olhos, minha tez...
Afoita, já corro e recorro
ao concurso de "Libras".
Alfabeto das mãos falantes
a substituir garganta e cordas,
enquanto inativo o órgão vocal.
No pensamento repousa o
paginário dos versos que
no domingo compus e,
ainda sequer vieram à luz.
Mas onde estará minha voz?
Nas cordas vocais dos
alienados mentais ou estará
ela num concerto, treinando
um coral oceânico, composto
de gaivotas e do Albatroz?
Sinto amordaçadas as palavras
e cristalizados os rios vocais.
Se Deus deu ao gato, sete vidas,
também contemplou o poeta
com o dom de sete vozes.
Talvez eu não esteja muda e,
seja apenas um motim de palavras.
Pode também o meu silêncio
tê-las matado de torpor e tédio.
Dela eu sou a Dona e exijo:
Devolvam-me sem dano
a minha distinta e difusa VOZ!