O Inevitável é ter que viver.

Fazemos nossa trama como se fios intrusos fossem se lançando sobre os outros e nós não víssemos, mas a verdade é que vimos. Embaralhados naqueles que estavam em pretensa ordem, formando veios de pura insanidade e beleza. Vão criando artérias por entre os outros, de outras cores, espessura, irrigando as partes conhecidas dos nossos motivos.

Pontes safena de nossos bordados. Vielas, becos, mistérios nossos e mudos, porém, carregados de sangue, de estória e de alma.

Agora teremos que viver com eles ali no meio de tudo. Agora eles tomaram como as epífitas, o caule de nossas árvores sugando delas os nutrientes. Nós nos deixamos sugar. Quando nos falta o fôlego, usamos nossas máscaras de oxigênio, mas nunca, cortamos os fios que levariam à morte necessária para outro estágio. Insistimos nessa ânsia por ar, essa agonia do corpo e da mente buscando sinais, perdas e etc.

Contando como o homem que fecha o caixa de sua loja, se o que entrou é a exata medida do que saiu, e nunca a medida é exata. Tudo o que foi levado ou deixou-se levar nunca confere com o que há de valor no caixa. Por que deixamos nossa alma nesse déficit terrível? Onde está o céu de tanta miséria? Está no momento, nas horas, nas coisas vividas, e em tudo o mais que não sabemos explicar com palavras e que nos angustia. O que nos falta entender é que assim como a epífita estrangula a árvore, nós também ficaremos sufocados desses sonhos cheios de magnitude e de tão fartos desejos e que não se realizam.

É preciso lançá-los no infinito, porque tudo passa e tudo vai esquecendo-se de nós. Essa vaga lembrança de que um dia corríamos abraçados e que tivemos momentos apaixonantes de frases ditas e confissões cheias de alegria, é preciso lançá-las agora no infinito. O que fazer com tudo isso. Vê-las passar em nossa mente como um relâmpago e ter saudades delas. Fechar os olhos e ir.

O inevitável é ter de viver.

Anaís
Enviado por Anaís em 20/12/2009
Código do texto: T1987138
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