Cartas não enviadas.

Querida eu não sei dizer o que vale à pena a essas alturas, mas sei que com a idade chegando e dobrando a esquina de meus pensamentos tenho que não só pensar no que não deu certo, mas naquilo que pude fazer de bom comigo mesma. Nossas estórias de fracasso são muitas, mas abraçá-las é como abraçar o vento. Deixam-nos desalinhadas essas estórias terríveis, os cabelos revoltos, os lábios paralisados e a íris descolorida de medo e indignação e muitas vezes, dor.

Não posso desmerecer nem mesmo isso, porque não tenho forma, não tenho forma que me encaixe senão a forma humana que Deus me compôs. Passo pela vida impregnada de tormentos e alentos, como um jovem que fica ansioso e ao mesmo tempo alegre. Como uma senhora que fica cansada e ao mesmo tempo adora somar cansaços quando o assunto é família, amor e paixão. São tantas as perguntas e eu elaborando respostas, pois deixar uma pergunta solta é uma liberdade tão grande, um desafio imenso não ter resposta.

Desafio maior é passar pela vida como uma escola de samba que passa na avenida. Sempre pensei isso. A fantasia, as alas, a dispersão. Os restos de nossas roupas caídas no chão. Isso tudo por um momento. Vale à pena. Vale à pena ver nossos pedaços caídos, nossos vestígios e os vestígios de nossa alegria e de nossa emoção ao ter passado e chegar ao outro lado praticamente nus.

Não sei quantas vezes subi e desci nessas escalas da vida e só tenho trinta e poucos anos. Quando eu for velha irei escrever mais do que hoje porque terei mais memórias que hoje. Terei saudades. Será que meus olhos ainda serão brilhantes até lá? Acredito que sim, pois vou morrer apaixonada pelas harmonias de certas belezas. Vou morrer de belezas.

Anaís
Enviado por Anaís em 20/12/2009
Código do texto: T1987155
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