Massagem

Batidas. Palmadas no dorso. Irradiações. Dores. A sétima vértebra não está nada bem. Outro dia foi um pequeno estalo, mínimo. No dia seguinte, ao abrir a geladeira: dormência no dedo mindinho do pé. Terrível. Parece que foi ontem, mas não. Na verdade, anteontem não consegui fechar o registro do chuveiro. Acho que já faz três anos desde a primeira vez que vim aqui. Outro médico me pediu chapa do omoplata. Na época não dei muito papo para o que ele falou, até mesmo porque o radiologista disse que não era nada demais, mandou-me tomar uns medicamentos e fazer uma série de dez massagens. E voilà: pronto! Ele disse.

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No dia marcado, antes de vir, tomei um banho bem quente para me acalmar. Chegando, vi aquelas pessoas em cadeira de rodas, havia mesmo um que estava com a sonda deixando entrever a genitália, escapava um líquido amarelo escuro. Na sala de massagem, observei as macas com frisos enferrujados e os pequenos colchões de faquir e aqueles lençóis semi encardidos. Mas, imagine, quando me estendi, já me senti confortável, como se fusionasse água à pedra. Odor. Vapor. Ali relaxei o inseto vesgo que andava torto no meio de minhas vértebras.

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Vê-se imagens: cores enoveladas naqueles salões azuis onde ficava boas horas à espera de um pequeno ferro que me passaria as costas a limpo, esquálidas luzes saindo pelos rodapés, batidas no pé do encosto da cadeira acompanhadas por movimentos em círculos, círculos, círculos, de enfermeiros apressados.

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Dez semanas e há percorrendo no meu corpo um novo sangue, fluido e espesso, injetado nos olhos e saltando a flor da pele, contrasta, de certa forma, à dor ciática, esta sim, ainda me vulcaniza por dentro, no suplício das escadas do ônibus, quando divagarei abaixo do olhar do motorista que vou ver daqui a poucos metros, depois de atravessar a rua e este sinal com o amarelo piscando piscando piscando.

Flávio Corrêa de mello
Enviado por Flávio Corrêa de mello em 21/07/2006
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