CONFISSÃO
 
Entre pedras e seixos caminhei até aqui com bravura. Derramei horas de vida num copo cheio de vergonha. Seduzi corações que sofreram o amargo da mentira. Amei e desandei do amor, como morro de areia sob ventos de verão. Enganei meu coração olhando uma paixão e enxergando um corpo e uma casa dourada de vazios. Percorri mundos de loucuras sem a devida calma de uma receita e cantei vitórias com sangue na boca dilacerada. Mas de tudo tentei o melhor que concebia e se errei na trajetória, certo é que buscava um alvo em que o amor era pousada. Pensei plantar um castelo de música e festas, colhi ódio e desconfiança, mas ainda houve espaço para um pequeno poema e com ele, um “lasco” de esperança. Não quero e nem posso me julgar, antes sou julgado pelo desconhecido da vingança, da desconfiança, do amor imaturo e da semente mal escolhida. Sou assim, um comum homem frágil, que se esconde como criança, com medo do monstro da manhã, mas a noite me entrego apaixonadamente ao encanto dos versos, que me chegam inesperadamente, sem trato, sem cuidado, apenas pela emoção que sinto. Uma fogueira gigante cuja lenha é uma inspiração que não explico. Um amor que desconfio ser, um presente como desagravo ao pobre poeta que enfeita a dor de sua solidão.