LEMBRANÇAS DO TEMPO

"Batidas na porta, é o tempo..."

Sim, sempre voltará cobrando o preço do que fizemos, não fizemos e, principalmente, escolhemos: o Tempo. Assim maiúsculo por representar um ente com personalidade formada, substantivo próprio, dono de si. Quem não se dobra ao tempo? Eu, você, não, não há como escaparmos do tempo, ele sempre volta e cobra caro por tudo. Se a face está marcada de rugas - plástica, caída - fio russo, botox e outras armadilhas que nunca ganharão para o tempo. Nas ações, como no provérbio bíblico: plantar é opcional, colher é obrigatório, no dito do povo de Caruaru: não plante jaca querendo colher abacaxi...

A passagem do tempo para uns é demorada, para outros precoce, mas nunca satisfatória: "morreu tão cedo...; tanto sofrimento, porque não se vai logo...".

Será verdade que há medida no tempo: longa como uma noite de dor, rápida como um encontro de amor. Não, não há satisfação com o tempo, resta sim um saudosismo contagiante: "no tempo de eu menino... eu era feliz e não sabia...". O passado evoca o que para nós o tempo trouxe de bom, no presente não há tempo e o futuro a Deus pertence.

Na verdade nunca há tempo suficiente, falta ou sobra. Sem medidas vamos escravos do que deveríamos ser senhores: o Tempo nos domina, mas não por sua força, por nossa fraqueza e inclinação para não vivermos bem em liberdade; acordei pensando se eu não tivesse horário para cumprir no trabalho se eu faria um horário que desse para fazer tudo, não pude responder, como mulher achei mil coisas para fazer antes de trabalhar e aí, sim, não teria tempo nenhum para o trabalho.

É como lembrar de certos amores, sem o foco do tempo restam os bons momentos ou se a coisa foi muito ruim, apagam-se todos os bons momentos. A crueldade do tempo, insensível e constante. Sei que é um ano novo e o que mudou no tempo: os algarismos, a proximidade de nascimentos e mortes, enfim, nada.

Nessas considerações de quem queria fazer poesia mas foi carregada por lembranças, ouço batidas na porta, é o tempo, preciso levantar.