Vinte anos depois*

Vinte anos depois*

==============ErdoBastos

Pensei que não mais passaria

Nesta rua, onde ela morava.

Hoje, porém, algo me impelia

E quando vi, aqui já passava...

Quando olhei, lá estava ela

Num banco em frente ao portão

Ainda mais jovem e bela

Do que a tenho no meu coração

Não é possível, são vinte anos.

Vinte anos já se passaram...

Do tempo em que nos amamos.

Mas parece que não contaram...

Não é possível... vou voltar

Mesmo rosto, mesmos cabelos

Vou até mais perto pra olhar

Será ela? Os seus olhos, preciso vê-los...

Passo a pé, frente ao portão

Ouço-lhe a voz... meu deus, igual...

Seca-me a boca, dispara o coração

Fico tonto, quase passo mal.

Também, não é para menos,

vinte anos depois... foi ontem

Em frente, lhe faço uns acenos

Vinte anos, é possível que não contem?

Vem sorrindo, gentilmente

Mesmo andar, suave e elegante

O passado me invade a mente

Como quem volta a um tempo distante

Ela para, na minha frente

Me pergunta o que eu desejo

E me ocorre num repente

Que não devo pedir-lhe um beijo...

Atrás dela, uma senhora

Com mais uns vinte de idade

Perguntando: - Quem está aí fora?

Eu lhe respondo: É a saudade...

E caio no chão, chorando

São ela e a nossa filha, é claro...

E quando estão me levantando

Com os dois rostos me deparo

E ela. Que então me reconhece,

Se agarra na filha, quase cai

-Pensei que nunca mais viesse...

-Minha filha, este é seu pai.

Fui assim, deste jeito apresentado

Pra filha que eu ainda não conhecia

De um amor que ficara no passado

E que eu, somente agora, revia

Me dizendo – Como demoraste

Falamos em ti todo dia

Estas bem, quase nada mudaste

Vem conosco, somos tua família...

*Poema baseado em relato de caso real, escutado em uma rádio de Porto Alegre.