A VIDA É UMA OCASIÃO ESPECIAL
Coisinhas grosseiras, meras e pusilânimes
Tornam-me roto trapo fino na manhã desfigurada de céu
Tolo eu.
Sem o propósito vital a me subtrair a essência
Sem a cara, nem sequer a sombra – só a sobra
Tolo eu a acreditar na sua invisível força...
Que morda, que morda!
Tenho os dentes ferinos de sapiência e de lógica
Todo o coração recheado por prófugo sentimento
Agüento tudo, tenho a lâmina bipartida da escuridão
A dádiva desenfreada da vida
A essência, o verso e o semblante viril a lançar sorrisos.
Tolo eu
A me achar uma dessas coisinhas meras e pusilânimes
Tolo eu!
Envergonho-me.
Não há nada mais ledo que o sangue que flui como jóia da pele espessa
Sei a bruma que me sopra e me assopra quando temo pelas ojerizas
Ah, tão indóceis!
Pô-las-ei em minha mesa ao café da manhã e as estriparei, de monte.
Essa é a magnífica hora da vida em avalanche
No fausto átimo, na artéria cava da indulgência e da hipocrisia
Tola ela; tolos todos a aguardar o ressequir cardíaco
Minha alma se enleva e gela como prova de sua versatilidade
Graças à essencial idade.
Por saber, hoje, que sou réplica fiel do espelho que aspiro
- e inspiro –
Jantarei à base de vinho tinto [que me perdoe amigo envelhecido]
Pois, a vida é uma ocasião especial!