Quando cai o pano

 
          Ao me virar, deparei-me com teu semblante manso repousado a meu lado. Afastei teus cabelos que, feito cortinas, resguardavam o espetáculo de beleza que nunca sai de cartaz em teus traços. A pele clara, mesmo na meia-luz, reluzia maciez, porque ternura tem luz própria. Mas teu sono profundo privou-me da exuberância de teu olhar. As pálpebras só insinuaram rápidos movimentos, como que movidas pelo resvalar de tua respiração que fluía vida em paz. O espetáculo estava quase completo e, por pouco, eu, espectador solitário, não pulo ao palco para uma salva de beijos. Mas ainda houve uma inesperada “piece de resistance”, porque teus lábios, transmitindo alguma viagem onírica, desenharam um sorriso. Fui ao êxtase! Todavia houve um despertar que desmanchou meu encantamento. Caiu o pano, acordei e tua angelical figura ficou lá em meus próprios sonhos. 

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