A estufa dos sonhos

Minha casa é uma estufa. As flores precisam estar sempre bem aquecidas, e eu sou uma flor. Uma moça com alma de flor e lábios vermelhos, como uma rosa. Eu sou uma rosa.

Uma moça com alma de flor e olhar de flor. Olhos brilhantes como o orvalho. Sou um orvalho, desses que escorrem pelo vermelho das rosas. Lágrimas que escorrem pelo vermelho dos lábios.

Um orvalho como gotas de uma chuva invisível. O céu terroso significa esperança em tempos de seca e por isso escrevo, pelo céu, pela flor e por mim.

Ah! Queria eu ser maior que tudo isso! Queria eu ser menos flor e menos orvalho, ser mais espinhos.

Ah! Queria eu não ser dona de sorrisos efêmeros, de sonhos de minuto.

Ah! Queria eu não ser responsável pela felicidade instantânea, passageira, dos namorados que se convém por amor.

Ah! Queria eu ser menor que tudo isso! Queria eu ser mais real e mais palpável, ser menos sonhos.

Mas minha casa é uma estufa. Minha pele transpira, minha cabeça tonteia, mas meus sonhos se conservam e tentam semear-se em um solo de concreto. E meu corpo quase morto não consegue reagir. Não tem mais forças para regá-los.

Marilia Westin
Enviado por Marilia Westin em 09/02/2010
Reeditado em 09/02/2010
Código do texto: T2076984
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