Desabafo (no bar da esquina)

Encontro-te ali sempre na mesma esquina

e convidas-me a um bate-papo seja onde for.

Sinto essa tua necessidade de um desbafo...

e por que negar...se afinal tudo que tenho a fazer

é ficar ali sentada, quietinha, a te escutar?

Mas,hoje,tenho vontade de dizer logo a verdade...

Livrar-te desse sofrimento sem fim

a que tu mesmo te condenaste...

Esse hábito cruel de te entregares à dor...

cantando em verso e prosa um falido amor.

Dizes-me sempre que só eu posso entender

por trazer minha alma tão triste como a tua...

machucada por um amor incompreendido..

E, usando minhas proprias palavras esperas

que eu faça coro sentido ao teu sofrer.

Mas hoje decidi: quero dizer-te, enfim,

de todo essa dúvida que sempre me invade...

quando começas a desfiar o teu rosário.

E, não ficarei aqui, esquecida de mim,

enquanto teces teu lamento insensato.

E penso: se até o desconsolo tem seu tom exato

que vez ou outra, se veste de alegria

-encontrando na alma o cerne da poesia-

por que não vejo nada disso em teu olhar?

Assim,nesta mesa escondida, desse bar anõnimo...

(onde sempre me trazes para ouvir tuas histórias)

desta vez não me calarei diante de tuas frases feitas.

E, pedirei que expliques um a um todos os sentimentos...

De onde nasceram um dia, e porque tanto se repetem.

E, se enfim me convenceres de toda autencidade

Comprometo-me a ouví-los,vida afora,sem objeção.

Mesmo que se pareçam tanto com os meus...

Mesmo que uses e abuses das palavras que te ensinei.

Porque, se vierem das profundezas de teu coração

entrego-te todos os meus versos,passados e presentes

enquanto eu mesma, tomarei posse de teus devaneios.

Afinal na tentativa de exprimir os sentimentos,

de construir palavras com arte e paixão...

somos companheiros de estrada...tu sabes.

Mas que sejam legítimos esses nossos delírios de amor,

que sejam espontâneos na realidade, na fantasia.

Ou não merecem todo esse tempo,aqui jogado fora

Ou não merecem esse nome tão sagrado de Poesia.