e agora o dirigente da empresa chamada Brasil:
Ao Samaral
- Minhas senhoras e meus senhores: Acontece que através do diálogo tudo se resolverá. Não se preocupem que os dirigentes desta imensa e tradicional casa estão em todas as ocasiões oportunas pensando rapidamente em vocês, em sua razoável importância. Sua colaboração, entretanto, é imprescindível! Nunca deixe de dar seu apoio à empresa que dirigimos, já que ela é menos nossa do que sua, e ela nunca esquecerá de seus esforços, pelo menos num determinado momento, é claro, porque afinal de contas, tudo nós não podemos dar. Não se rebele, já que o que a empresa faz é para o seu exclusivo reconforto, ainda que isto somente aconteça nas suas horas vagas. Console-se ... mesmo assim existem fatos mais condenáveis. Quem reclama está mal intencionado. Controle seus impulsos mais humanos e até mesmo humanitários. Pense sempre que um homem é responsável pelos seus atos. Por acaso não sabemos que seus sofrimentos são terríveis! Por acaso não entendemos que seus salários sejam baixos ainda! No entanto, vejam! Nós compreendemos perfeitamente. Estamos até compadecidos! a ingratidão dos insatisfeitos e intransigentes nos impedem infelizmente de divulgar nossos sentimentos verdadeiros e reais. Afinal de contas dedicamos sempre as penúltimas horas do dia para pensar no que podemos fazer a fim de que os sofrimentos de todos vocês sejam mais suportáveis. É possível mesmo que consigamos num futuro próximo suprimir certos pormenores deploráveis do sofrimento; o aspecto externo, por exemplo, pode ser suprimido. Basta cobri-lo com um roupa simples, barata e arejada. Cada caso deve ser examinado separadamente, mas de um modo geral as soluções serão as melhores possíveis. Se, por acaso, e sinceramente não acreditamos nisso, alguém se julgar insatisfeito, pode reclamar que nós teremos o imenso prazer de atendê-lo, desde que esteja ao nosso alcance a solução adequada e, é claro, não fiquem prejudicados os índices de produtividade e de lucratividade da empresa que dirigimos. Mas de qualquer forma nós teremos a maior boa vontade, porque o nosso maior receio é de que a assistência maravilhosa que nos escuta tão silenciosa e submissa, aliás como era de esperar, saia insatisfeita com o que aqui foi discutido de modo tão intensamente democrático, o que teria acontecido se, por acaso, fôssemos infiéis com as nossas primordiais determinações que sempre foram o mais puro respeito pela opinião alheia. As melhores idéias, meus caros amigos, nascem do diálogo franco e leal, e, francamente, nunca faltamos com a nossa honrada palavra . . .
(ouvem-se crescentes rumores no auditório)
Esperamos que a . . . . . . . . . . . . .
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1) Publicado em Olho Nu - OUT/1981 - Magé (RJ).
2) Publicado no livro "Incêndio Menor" - Ed. do autor - Rio de Janeiro - 1981 - pp. 11-12.
3) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/eagora.htm
Ao Samaral
- Minhas senhoras e meus senhores: Acontece que através do diálogo tudo se resolverá. Não se preocupem que os dirigentes desta imensa e tradicional casa estão em todas as ocasiões oportunas pensando rapidamente em vocês, em sua razoável importância. Sua colaboração, entretanto, é imprescindível! Nunca deixe de dar seu apoio à empresa que dirigimos, já que ela é menos nossa do que sua, e ela nunca esquecerá de seus esforços, pelo menos num determinado momento, é claro, porque afinal de contas, tudo nós não podemos dar. Não se rebele, já que o que a empresa faz é para o seu exclusivo reconforto, ainda que isto somente aconteça nas suas horas vagas. Console-se ... mesmo assim existem fatos mais condenáveis. Quem reclama está mal intencionado. Controle seus impulsos mais humanos e até mesmo humanitários. Pense sempre que um homem é responsável pelos seus atos. Por acaso não sabemos que seus sofrimentos são terríveis! Por acaso não entendemos que seus salários sejam baixos ainda! No entanto, vejam! Nós compreendemos perfeitamente. Estamos até compadecidos! a ingratidão dos insatisfeitos e intransigentes nos impedem infelizmente de divulgar nossos sentimentos verdadeiros e reais. Afinal de contas dedicamos sempre as penúltimas horas do dia para pensar no que podemos fazer a fim de que os sofrimentos de todos vocês sejam mais suportáveis. É possível mesmo que consigamos num futuro próximo suprimir certos pormenores deploráveis do sofrimento; o aspecto externo, por exemplo, pode ser suprimido. Basta cobri-lo com um roupa simples, barata e arejada. Cada caso deve ser examinado separadamente, mas de um modo geral as soluções serão as melhores possíveis. Se, por acaso, e sinceramente não acreditamos nisso, alguém se julgar insatisfeito, pode reclamar que nós teremos o imenso prazer de atendê-lo, desde que esteja ao nosso alcance a solução adequada e, é claro, não fiquem prejudicados os índices de produtividade e de lucratividade da empresa que dirigimos. Mas de qualquer forma nós teremos a maior boa vontade, porque o nosso maior receio é de que a assistência maravilhosa que nos escuta tão silenciosa e submissa, aliás como era de esperar, saia insatisfeita com o que aqui foi discutido de modo tão intensamente democrático, o que teria acontecido se, por acaso, fôssemos infiéis com as nossas primordiais determinações que sempre foram o mais puro respeito pela opinião alheia. As melhores idéias, meus caros amigos, nascem do diálogo franco e leal, e, francamente, nunca faltamos com a nossa honrada palavra . . .
(ouvem-se crescentes rumores no auditório)
Esperamos que a . . . . . . . . . . . . .
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1) Publicado em Olho Nu - OUT/1981 - Magé (RJ).
2) Publicado no livro "Incêndio Menor" - Ed. do autor - Rio de Janeiro - 1981 - pp. 11-12.
3) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/eagora.htm