{eu não sabia dizer...}

eu não sabia dizer que havia apreensão, expectativa, ansiedade, surpresa, que quando amanhece é tudo outro mundo, outra vida, outro dia, é tudo de outro jeito e que as mesmas coisas são outras coisas e não há romantismo nem um nisso. eu não sabia dizer que me assusto por entre os dedos por entre os lábios por entre os cílios por entre os dentes por entre os passos por entre as verdes horas por entre a visão de um escorpião vermelho sobre a pedra e um cão subindo o beco de orelha levantada. eu não sabia dizer como me sangraram as esporas do tempo, eu não sabia dizer como fiquei cheirando a incenso de sonhos, cinzas na sombra depois do vento. na verdade, não sabia dizer como sumiu a sombra.

não sabia dizer como os pensamentos se engendram e as idéias se fazem atlas sem legendas na carne, visão de satélite na pele as coisas. não sabia dizer que é difícil dizer as coisas enquanto isso o sono de um silêncio me alastra a geometria o contorno o inferno do infinito. eu não sabia que além de março é claridade gliterosa como uma cor espremida de sol, eu não sabia dizer que é um estado incontido de palavra.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 20/03/2010
Reeditado em 28/03/2010
Código do texto: T2149526