Desapego

Certas horas, como agora,

ocorre-me um sopro no peito,

que leva qualquer coisa embora,

feito ventos de outonos sobre folhas mortas,

e de repente, quando percebo,

tenho nada que me pese na galharia torta,

é tudo tão leve, ameno, perfeito!

Que até o própio peito torna-se pequeno,

e então, cabe quase nada,

tão pouco qualquer mágoa passada.

E ao passo que sopra, me desapego,

deixo as minunciosidades, e o extremo, tudo ir,

no entanto o que tiver de ficar,

deveras não vai querer partir,

já aquelas coisas que a gente solta,

e logo sai correndo mundo a fora,

é de posse alheia,

por isso nem volta...

Camila Trideli
Enviado por Camila Trideli em 15/04/2010
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