O AFETO É A AUTÊNTICA ENCARNAÇÃO DO AMOR
O afeto, ladrão daquelas coisas
Rompe o cio na amainada leda lua
Tange e aperta como nó sem cor
Lambisca outros modos a colocar a par.
O afeto tarda, às vezes
De manhã, no aplainar das coisas
Cego o tino; a perambular, soturno
Só para lhe dizer que há.
Tal afeto, eu hei de o perquirir
Como anjo sem cauda, na penumbra
Ante o ritmo dançante da adaga
Leva-nos ao plágio por vezo do comum.
Só para lhe dizer que o afeto
Rasga as sépalas oriundas e ingênuas
Que gritam, mascaram e se orientam
O afeto fede a enxofre lábil, mas se propaga.
Entre pernas, corpos e ardências
Com a parte insana do gozo a nos margear
Traga de ti, o “se” do afeto e lhe dou o “ah!”
Contra muros e labaredas, no suplicar.
Só para lhe dizer que o afeto corrói
Irmão do fleimão doce, sereno e cáustico
Que rasura, que nos traz à tona, que esmerilha
Que divaga.
Entre rumos e azinhagas, perdemo-nos nas entranhas
Donde liras são brotadas, donde céus são criados
E uma santa beatitude se esvai em poesia
Em suma, o afeto é a autêntica encarnação do amor.
Cesar Poletto - www.fortunaliteraria.net