Poema sem nome e sem rosto
Imagino que ao olhar meus olhos
Ela o quer sem rosto.
Meu coração inventa mil máscaras
Para sua fantasia.
E eu me esforço para desenhar tantas imagens
Que meus dedos ficaram calejados e irregulares.
Ela, vestida com um vestido branco,
Como se envolta em nuvens
Eu continuo sendo o que sou e ela não retorna.
Fica na memória a forma e seus quadris
E o ritmo de seus passos ecoando em meus ouvidos.
Grito com minhas mil bocas, das mil faces que inventei
Mas ela fugiu e já na pode me ouvir.
De que me adiantaram disfarces?
Por sob o boné, meus cabelos ralos e brancos
E um sorriso desenhado nos lábios.
E meus olhos reticentes
Guardam na retina
Aquelas maças do rosto esculpidas em rosa
E guardam a jura de nunca mais sofrer.
Protegida das minhas vistas
Julga-se protegida do sofrimento.
Mas sofre em excesso
Por infortúnios apenas imaginários...
Fotografo este exato momento
De meus onze anos
Quando éramos um.
Meus onze anos de inocência sob seu manto branco.
Imaginávamo-nos sozinhos naquele tempo.
Meus onze anos e meu olhar de hoje
Já não vejo seu rosto
Mas eu não preciso
Você se tornou recordação
Tudo porque exigiu da memória um olhar por sob as máscaras
Das tuas antigas fantasias...