O PRIMEIRO ALMOÇO NUM BAIRRO DESCONHECIDO NA CASA DA FILHA MAIS VELHA DA ANTIGA AMIGA DOS TEMPOS DE JUVENTUDE DE UMA MÃE E CASADA COM UM RAPAZ DE NOME MUITO COMUM SERVIDORA NUM BANCO ESTATAL E IRMÃ DE UMA BELA MORENA SOLTEIRA E SENSUAL

— Galinha?

Pausa para se lembrar das instruções de casa.

— Não. Obrigado!

Galinha poderia ser recusada.

— Ele não come comida com molho, não é?

— Agora ele já está comendo...

— Então posso colocar pimentão...

Pausa para pensar. Nunca serviram pimentão na casa dele

Ele treme. Vai comer pimentão pela primeira vez.

“Que gosto tem o pimentão? Ela cortava em tiras compridas. Cheiro bom! Meio doce na comida salgada”.

— Gostou da salada?

Olhar de poder matriarcal.

— Gostei...

— Come mais um pouquinho!

Olhar pedindo aprovação.

Consentimento dos olhos de quem dá as cartas.

O prato é preenchido novamente.

— Obrigado...

O sol era lindo da mesa de tábuas brancas da varanda com sopro de vento.

Havia manga na sobremesa.

Ele nunca chupou manga. Não sabia como fazer isso.

O desespero!

Alívio... A manga servida estava cortada!

O marido de nome comum chegou e conversou muito com ele. Ele aprendia com ele. Seu pai não estava ali.

As mulheres retiraram os pratos e se retiraram. O homem de nome comum permaneceu no mesmo lugar.

Ele entendeu que tinha de continuar por ali. Aquele era o comportamento no ritual porque era igual a ele, porém seu nome não era comum nem sua idade naquela casa.

A mulher inatingível morena e sensual com cara de atriz entrou. Seu perfume indescritível e único ficou no ar. Ele flutuava incomum.

O homem comum não percebeu. Ele queria ser comum e era incomum no aprendizado comum. A morena era incomum como ele e comum em sua pele de bronze incomum igual a dele.

A bela mulher entrou para os seus aposentos e não saiu mais de lá até hoje.

Ele também nunca mais voltou nessa casa de comida fresca como o perfume da mulher viçosa.

Os pimentões e as mangas continuam na mesa dele. Outros frutos também. Os cheiros doces inebriantes tentadores o envolvem e o impregnam. Amálgama com seus cítricos amadeirados acres dominadores. O cheiro fugaz ficou no quarto onde ele não entrou na pele de canela que ele não tocou e nos lábios carnudos de morango que ele não beijou.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 05/05/2010
Reeditado em 15/11/2020
Código do texto: T2238719
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