Só os gafanhotos são sutis

Repito o que disse há pouco:

Estou rouco e não posso abandoná-la agora

Você é a única...

... A única que aponta os meus lápis!

E é tão frágil, se parece com um gafanhoto

Não sou um gafanhoto, Jorg

Sou uma cloaca, a cloaca do seu mundo

De você, quero apenas os poemas

Eu sou os meus poemas, Arlene!

E tomaram vinho por duas horas...

Aquela foi, sem dúvida, uma noite dura

Posso ver o sofrimento em teu rosto

Como perdura...

E, agora quem sofre sou eu

Atravesso cambaleante a luz do mesmo poste.

Vacilante, penetro o beco escuro, ao norte

Que sorte, todas as noites ele está em meu caminho

Sozinho, percorro-o levando a sacola

Lá no final, está o cão a quem devo alimentar

Devagar ele vem... Posso ouvir seu rosnar.

... O olfato lhe aguça, prenuncia minha chegada

Porque me diz essas coisas, Jorg?

Porque não consigo me suportar!

Preciso de uma cerveja, outra... Vinho me dá sede

... Mas, é a dor que sempre vem antes.

Intervalo de dez minutos, e ambos em silêncio

Só havia respiração e o barulho

O barulho dos goles preenchendo o momento

Percebendo a inércia dos ponteiros, Jorg coça os olhos

É uma coçada brusca que gera mais vontade de coçar

Irrita-os em esfregadelas e distrai-se, se anima e acrescenta:

Nunca terei a saudação dos verdadeiros historiadores!

Pensando nisso, não me contive... Olhei

Olhei para o estacionamento, meu carro ainda estava lá

Olhei para cima e me engasguei, me pus a ofegar, tossi um pouquinho

Olhei para o lado e as mulheres que me assistiam deram-me um sorrisinho...

... E continuaram a beber e falar, todas simultaneamente

*Baseado em:

‘Menos delicados que os gafanhotos’, conto de Charles Bukowski.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 07/05/2010
Reeditado em 02/12/2014
Código do texto: T2242641
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.