será?

será que depois da seca tudo floresce? será que depois do seco-abafado e sob as camadas de telhas quebradas alguma coisa possa realmente brotar e crescer?

será que essa secura quente servirá para mais algumas águas? essas que ouço correndo pelos ouvidos, som de cachoeira, água correndo córrego entre seixos e água dançante de rio debaixo da ponte, água de rio que abraça outro rio num mar, queda pura d'água bem no olho da terra o olho d'água. Brotações no estorricado da gente, ô deus! quando a refrescância do abraço das chuvas, quando a brisa em meu rosto, o redemoinho de verde acariciando meu costado largo e cansado? que custo serpentear pelo deserto, na aspereza dos dias, na rachadura das falas, na quentura pontiaguda das pedras, na grossura da noite, no fisgado do olhar. Desalento isso de ficar passando a língua no sal dos lábios, que ardência seca nos olhos, e o esgoto secando grosso retinto escura furta-cor aberto no beco.

O som das águas cresce, se avolumam e vêm vindo? Será estarei aqui? Será minha garganta seca ainda terá voz e meus lábios terão beijos de leite e mel?

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 07/05/2010
Reeditado em 24/05/2010
Código do texto: T2243141