O altar de Nossa Senhora do Silêncio

Certa vez, quando saía da aula de música, decidi que não faria o caminho de volta de sempre. Li numa revista que quando cansamos das coisas devemos mudar. Neste dia resolvi ousar.

Passava pela rua que já me era conhecida, por atravessa-la sempre de carro, quando aconteceu um fato inexplicável e intrigante. Nela, havia uma confecção de jeans e acessórios. A tarde morria lentamente e avistei uma estrela no céu de brilho pálido ainda.

Lembrei-me das palavras de mamãe: “Filha, quando eu não estiver mais aqui e olhares para o céu e nele avistar a primeira estrela, faça uma oração por mim. Olhe sempre para o sol do fim de tarde, é a Ave-Maria que vem descendo...” assim o fiz.

Ao voltar minha atenção ao caminho que fazia, ao olhar pela janela da velha fábrica com parede de tijolos, vi uma luz incidindo por todo o galpão. Fascinada fixei o olhar para dentro e o que surgiu me deixou boquiaberta. Na parede azul havia um altar totalmente salpicado de pontos luminosos. Não consegui distinguir que santa estava lá.

Fui andando devagar e por outra janela tentei espiar até que cheguei na esquina, onde terminava o muro da velha fábrica.

De repente percebi que já não havia mais janelas. Foram depredadas junto com algumas paredes e na entrada, ficara apenas a porta de madeira. Olhei por baixo dela e vi a luz que invadia o piso da varanda.

Ao invés de continuar caminhando pela rua, uma força estranha me induzia a entrar pela transversal daquele cruzamento. Aí o espanto apossou de mim. Não havia mais as paredes no antigo galpão, somente a de tijolos da lateral. Nada mais restara: as máquinas, os operários, nem as paredes... era só ruína.

Caminhava meio que perdida intensificando as orações e pedindo a Deus uma explicação para aquela aparição.

Chegando em casa falei com minha filha e ela não entendia do que eu falava. Disse-me: “Mãe, vou verificar pra ti, mas sei que as coisas estarão lá. Passei por lá não faz três dias!”

Tentava lhe dizer que nada existia mais lá. Em vão.

À noite resolvi escrever sobre o episódio. Veio-me uma resposta incontestável. Era possível sim, ter visto o altar iluminado com fundo azul. Uma espécie de agradecimento às preces que sempre fazia à minha mãe quando via a primeira estrela nascendo no prenúncio das noites.

Minha mãe de onde estava podia me fazer aquele carinho, mostrar-me um altar magnífico: O altar de Nossa Senhora do Silêncio!

24/05/2004

bette vittorino
Enviado por bette vittorino em 27/08/2006
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