O Tempo como Projétil

Parto ao meio o sono, e sinto

Quebro em lasca a idade, e vejo

Que fizera o tempo com nossa memória de algodão?

Por que maltratara nosso viço? Nossa temperatura?

Tento me fixar em seu semblante pueril, intensamente

Debalde!

Ele vem-me sorrindo com os dentes do inverno

Num frio de calçada, com folhas por cima

Não há!

Pureza inebriante me invade o sonho

Foste Paula a Ana

Já andastes Ana por Paula

Hoje, és névoa obliterada

São memórias!

Guardo-as enclausuradas em esquife de aroeira

Sem frestas ou dobradiças

Aposso-me dos peixinhos dourados sob modas alheias

Trago-os a este sonho, meu divã forjado

Minha reminiscência mais florida.

Que matara em ti o tempo?

Nada!

Nossos ventos não hão nos poros

Nossas idades se acolchoaram nas lembranças

Ó reminiscências!

Perífrases desfeitas a encurtar a vida

Tolhemos elos, compendiamos os alcatruzeiros

Puxa, quanto penar!

Só não o é em cortes profundos

Porque hoje, consigo sonhar.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 29/08/2006
Reeditado em 29/08/2006
Código do texto: T227777
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.