O Tempo como Projétil
Parto ao meio o sono, e sinto
Quebro em lasca a idade, e vejo
Que fizera o tempo com nossa memória de algodão?
Por que maltratara nosso viço? Nossa temperatura?
Tento me fixar em seu semblante pueril, intensamente
Debalde!
Ele vem-me sorrindo com os dentes do inverno
Num frio de calçada, com folhas por cima
Não há!
Pureza inebriante me invade o sonho
Foste Paula a Ana
Já andastes Ana por Paula
Hoje, és névoa obliterada
São memórias!
Guardo-as enclausuradas em esquife de aroeira
Sem frestas ou dobradiças
Aposso-me dos peixinhos dourados sob modas alheias
Trago-os a este sonho, meu divã forjado
Minha reminiscência mais florida.
Que matara em ti o tempo?
Nada!
Nossos ventos não hão nos poros
Nossas idades se acolchoaram nas lembranças
Ó reminiscências!
Perífrases desfeitas a encurtar a vida
Tolhemos elos, compendiamos os alcatruzeiros
Puxa, quanto penar!
Só não o é em cortes profundos
Porque hoje, consigo sonhar.