O Pedagogo e a Lógica do Palhaço
O palhaço é um personagem esquisito que causa estranheza. Ele parece ser portador de algum segredo, alguma lógica diferente que as pessoas não conseguem alcançar, e por isso mesmo isolam, num primeiro momento. O palhaço assombra. Confesso que sempre tive medo de palhaços. Eles são assustadores, caricatos, parecem estar sempre falando coisas sem sentido. Ficam olhando pra gente com olhos curiosos, querendo nos fazer rir de coisas que, antes do palhaço chegar, nem ao menos enxergávamos. Incomodam por insistir em entrar sem licença num universo que a maioria de nós guarda a sete chaves: o universo de criança. Das coisas simples, do riso fácil. Coisas pequeninas que a correria da vida e os relatórios a preencher esconderam dentro de nós mesmos, pouco a pouco, imperceptivelmente, enquanto crescíamos. E agora vem o palhaço, querendo abrir nosso esconderijo e tirar tudo de uma vez.

Hoje compreendo que o pedagogo é visto exatamente assim. Ele incomoda quando chega, com uma lógica diferente que as pessoas não conseguem alcançar, e por isso mesmo isolam, num primeiro momento. No entanto, numa sociedade onde as relações humanas esvaziadas se extinguem e agonizam afogadas na papelada das repartições, na impessoal era do telemarketing, não podemos mais negar a necessidade do pedagogo – nem a do palhaço.

O desafio do pedagogo, portanto, é quebrar esta barreira e se fazer entender nos mais variados espaços a que se propuser a trabalhar. Deixar de ser estranho, construir laços de confiança onde ele possa mostrar a importância das relações que esquecemos, da aprendizagem que abandonamos, e difundir estas malucas teorias que até hoje só fizeram sentido na cabeça do palhaço...quero dizer, do pedagogo. Ensinar, no chão de fábrica, que para compreender a realidade precisamos enxergar o subjetivo, o imaginário, o “currículo oculto”. E como não pareceria loucura?

O pedagogo, por fim, ao pegar o esperado diploma, ainda não se tornou pedagogo de fato, assim como uma pessoa não se torna palhaço simplesmente por pintar o nariz de vermelho. É preciso aprender a se enxergar como tal, e pensar com a lógica do pedagogo. Lógica palhaça, maluca, sem lógica. Lógica de criança.  Uma aprendizagem que o novo pedagogo vai buscar no contato direto com a sua prática, no dia-a-dia. Lógica de palhaço, coisa de criança...de doutor e professor da alegria.
Suzana Nunes