JARDIM DE DENTRO
  
             
                 
(Memoriais de Sofia/(Zocha)))
               

Zocha à mesa corta a broa de trigo e gema, a caneca de café de porcelana simples comprada no armazém do Zé da Vanda, polaca fumega com sua asa quebrada sobre a toalha bordada de ponto cruz; um singelo maço de dálias sobre o guarda comida povoa os olhos; a blusa branca de crivos secando no varal para a missa de domingo voeja...

No terreiro o carroção cansado guarda silêncios e nos roldões dos pés as notações da pauta da caminhada longa na estrada .Ele viajou a noite inteira com Zocha e Brontcha carregado de hortaliças e agora descansa silencioso no terreiro, próximo a tulha que guarda a ceifa da ultima colheita, as ferramentas ainda exaustas, velado pelos espigais verdejantes da cortina do milharal a abraçar-lhe as vistas.

Na bolsa de pano que Brontcha sua irmã lhe fez com beiradas de crochê Zocha sempre leva consigo algumas palavras/ sementes colhidas dos canteiros do próprio jardim, como contas de um terço para oferecer à Virgem de Chestokova, pois as viagens provocam sempre ventos, perdas e são perigosas, a prudência guarda óleo na lamparina, assim, ela leva, também, num alvejado pano de algodão branco, uma broa de milho e gemas e uma caneca esmaltada.

Ele sempre tem muita fome e sede , se o senhor não me entendeu ouve ......ouve... ouve comigo... os sons da existência das coisas!..."


www.lilianreinhardt.prosaeverso.net