O Guto Não É Mais Aquele
O Guto não é mais aquele
Já não bebe, fuma ou cheira
Dizem até que parou de mentir
E aquela euforia que um dia tinha
Tornou-se felicidade serena
Quem o conheceu como eu
Bem sabe o que digo
O Guto malandro mudou
As pessoas percebem a diferença
Passou pela avenida Paulista
E mentalmente cruzou a São João
Fogueiras de fogos queimando
Toda loucura dos parques e estádios
Um vazio tão social interessante
Um São Paulo tão perdida e distante
" Uma falta do que fazer"
(Estava escrito num pedaço de papel)
A televisão, o baile e a despedida
Mas o Guto não é mais aquele
Pensa agora até em se casar
No comércio já se estabeleceu
Aqui virou lugar fácil de viver
Comissionado vende até o mundo
Quer se mudar para outro lugar
Mas tem que ser perto do sonho
Aquele que um dia teve pronto
E não quis contar pra ninguém
Vara o dia e vaza a noite
E o Guto não é mais aquele
Se anestesiou e acha tudo lindo
Diz que quer ser dono do próprio nariz
E levar tranquilo a vidinha em paz
"Mas que raio de paz toda é essa?"
(Estava no meio do prato em seu sonho)
Samba com feijoada e cerveja
Comem pimenta e adoram fritura
Correm, se escondem e atropelam
Apostam em jogo e arriscam o acaso
E o Guto meu irmão fica parado
Solta um sorriso sacana e sai de lado
Sacode a poeira e atende as feridas
E percebe-se então no fundo do rio
O profundo conflito deste personagem
Pois uma coisa em verdade vos digo
Que o Guto não é mais aquele!
(Quarta Feira, 27/10/99)