Arquierótica (homenagem arquitetônica aos namorados)

“Exploro teu terreno. Aqui, neste vácuo de tempo e espaço, entre quatro paredes, a única coisa que existe de concreto é a tua cobertura, o teu revestimento, o tecido suave que contorna tuas formas - pilares do meu desejo, arrimo de meus sonhos.

Meus vãos desvendam-se suavemente à tua comunicação visual; e, enquanto buscamos nos orientar, perdemos nosso norte. O entorno, que importa? O horizonte não é palpável, como não o é essa iluminação difusa que nos imprime no piso em luz e sombras, em intangível perspectiva que dá acabamento aos relevos de nosso desenho. Sem cortes ele se estrutura, se edifica, se ergue em majestosa presença, fazendo as vezes de alicerce a - quem sabe? - um novo projeto de vida...

Reconstruo, com as janelas de meus olhos cerradas e a porta de meu coração aberta, teus toques de artesanal labor; assim como decoras, com atenção e paciência, os detalhes de meu layout. E, tijolo por tijolo, erguemos um templo de prazer onde, cômodos e ergonômicos, nos instalamos. Mas a eletricidade que nos acende é poderosa e nossa resiliência, demonstrada por nossa flexibilidade, deixa claro que fomos projetados e construídos um para o outro.

Talvez seja fatal que eu te cobre outros momentos, porque não sou de ferro - ainda que minha fachada seja revestida com as tintas da placidez, meu interior é uma massa de sentimentos agregados, na qual o renascimento da paixão causa um novo movimento ético-estético-erótico: o neo-romantismo, do qual somos os mais perfeitos exemplares...

...Casa comigo?”