A terra

A terra... Nada mais brutal do que ela. Achar que é aqui a nossa morada perfeita é pura ilusão, assim como é ilusão o mito de que estamos na terra para sermos felizes. Uma miragem. O corpo que insiste em permanecer inteiro se desfaz aos poucos, nada mais funciona, nem o comer, o beber, o urinar, depois é o frágil tecido cerebral que enrijece e não consegue captar mais os sinais que vem de fora. Lá no mundinho apartado da senilidade, o que funciona são os lampejos de pensamentos do passado, gente que já morreu, memórias destinadas ao esquecimento, onda que se quebra na areia, energia que se desfaz no ambiente já tão fatigado de levar porrada. A vida... Um fenômeno secundário da energia dispersa no ambiente, que antes de se desfazer para sempre, reúne elementos temporariamente, em torno de um núcleo de dor. Os demônios de Maxwell trabalham infatigavelmente para manter a construção vã durante um pequeno lapso de tempo, a vida, como um bolor, vai tomando conta da terra, essa fruta mofada; mofada e estragada