Minha Casa, o Vento e o Mar
Naqueles dias o céu ficava mais claro do que de costume. Umas nuvens rasgadas o transpassavam ferozmente, atravessando sua imensidão admiravelmente perturbadora.
O barulho das ondas na areia e na vegetação trazia um certo rumor nas almas que por ali transitavam. Eram bruxas e bruxos, visagens e vozes mordazes e ferinas a nos espreitar. Uns tiritavam, outros riam e zombavam para além do horizonte.
Incrível! parecia que noutros tempos jamais tivera uma visão assim. O vento nas janelas uivava com uma fúria amedrontadora e, ao mesmo tempo, fina. Batia forte e o sono dele embalava o barulho de tudo vivo lá fora. A tarde continuava a cair melancólica e misteriosamente linda. Até a escuridão tomar aquele mundo, tudo corria assim, cada vez mais devagar e mais encantador.
Então, caia a noite envolta em uma penumbra de fundo etéreo, e o vento, como nos dias anteriores, voltava a descansar sua fúria para, quem sabe, no dia seguinte recomeçar a espalhar a areia, quebrar os galhos, zunir nas janelas, enfim, transformar o mar e nossos corações armados.