A Filha de Eucrysis, o justo. (Odisséia II)

A Santa Lambisgóia é um ser que se apoderou de Tinácrys, filha de Eucrysis, o justo, quando ela conheceu um tipo que não era bandido nem santo. Era uma espécie de homem que sonhava em ser guerreiro e reunir todos os poderes de um personagem da Ilíada, de Homero. Às vezes, ele brigava com os ventos, xingava as estrelas, desafiava a lua e queria varrer as marés com um remo. Não gostava de Alfazema, odiava todas as flores, praguejava as borboletas e aterrava os jardins com esgoto.

Tinácrys foi ficando, a cada dia, mais triste e feia, até se tornar uma lambisgóia.

Este homem acreditava viver num recôndito sem leis e submeteu Tinácrys ao mastro de uma jangada, num mar tenebroso e frio, entre hidras, enquanto se encantava com outras sereias. Por causa disso, ela se tornou afônica. O seu canto não encantava mais a aldeia. E sua poesia arribou como ave pr'além da noite.

Até que um dia, um Polifemo surgiu de um recôndito fétido, monstruoso e devorou em pedaços o tal homem. Aos poucos, então, os laços, que a mantinham presa, foram se soltando do mastro e ela pôde resgatar o canto de sereia que lhe escapou da garganta e voltou a espalhar sua música pelos ares.

Muitos no vilarejo ainda se revoltam com o pobre coitado. Acham que ele deveria ter sido preso, açoitado, capado...

Mas pra quê?

Se hoje, ele não estiver ardendo no Hades, deve estar enchendo os tonéis das Danaides em obediência aos deuses do Olimpo; enquanto Tinácrys, filha do justo, Eucrysis, se banha em óleos perfumados de alfazema para recuperar a Helena que foi raptada de si.