Fragmentos de Estação

Fragmentos de Estação

“... Há algo que jamais se esclareceu:

onde foi exatamente que larguei

naquele dia mesmo o leão que sempre cavalguei?

Lá mesmo esqueci

que o destino

sempre me quis só

no deserto sem saudades, sem remorsos, só

sem amarras, barco embriagado ao mar...”; INVERNO, de Antonio Cícero.

Tem de mim nessas palavras, tem de mim nesse leão.

Inverno é letra, poesia, filosofia,

Inverno é Estação,

Frio, ainda que seja verão.

Canso,

Tanto que já cavalguei,

Por vezes, danço, tanto que já dancei.

E tanto que já lutei,

Há gladiadores em mim,

Porém num desdém, quiçá do destino,

Trombo, caio,

Nesta hora sou só, sem fera,

Apenas só.

Só...

Tem de mim numa insana solidão,

Num saber que, querer advinhar,

Prognosticar:

Presságios das cartas,

Das mãos do destino,

Que lê em voz alta,

Ser livre, fragata,

Num mar que desata,

Nau atemporal.

Liberta,

Asas ao léu.

Só...

Só,

Veementemente só.

“... Não sei o que em mim

só quer me lembrar

que um dia o céu

reuniu-se à terra um instante por nós dois

pouco antes do ocidente se assombrar...” - Inverno.

A lucidez é retrátil,

Sorte e sortilégio,

De novo, ele,

Juntou, no amor pleno agasalhou...

Instante é infinito.

Felicidade paralela à tristeza.

Amor,

Tênue traçado que separa da dor...

“... No dia em que fui mais feliz

eu vi um avião

se espelhar no seu olhar até sumir.

De lá pra cá não sei

caminho ao longo do canal

faço longas cartas pra ninguém

e o inverno no Leblon é quase glacial. ...” - Inverno

Mas, para não dizer que afetos são poucos,

Vivi o múltiplo dos sentimentos,

Escrevo em grafo de grafite ou sangue:

É plausível a felicidade.

Quer de carne, cera ou papel de seda...

O reverso,

Esse sim

É frio que embaralha a alma,

Faz tremer em calafrios no verão.

É inverno constante,

Determinante.

São letras descompostas,

Qual fazer cartas errantes...

Adendo: “Fragmentos de estação” escrito inspirado na poesia de Antonio Cícero, “Inverno”, composta para a música de Adriana Calcanhoto. Neste caso, música primeiro, letra/poesia , depois.

Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 30/06/2010
Código do texto: T2350365
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