Tempo

Sinto as horas escorrerem. Elas me escapam. Eu perco tempo, no mesmo alento, no mesmo tormento. Fixos olhos revoltosos, fitam além das paredes maciças. E lá, no além, fitam nada. Não sei por onde andam meus olhos. Só sei que assim, inerte, fujo do pensar. É mais fácil. E meus olhos ardem. Ou não seria meu peito? Que dói e comprime algo que não existe? Por onde andei? Não sei... Só sei que perdi todo meu tempo, fitando o nada. Não volta mais. E agora aprendi a perder tempo. Não consigo organizá-lo em mim. Olhos fitos, perdem horas. E eu aqui, fugindo não sei do quê. Mas quando eu tinha tempo! Ah! Eu pensava muito, falava melhor, tinha tudo. Hoje perdi, muito mais, além do tempo. Tempo não é só dinheiro, aprendi: é alegria, entusiasmo, vida. E quando eu tiver tempo? Será tudo mais claro, mais ameno, menos temporal. Será tudo profundo, assim, como um verso moribundo, quase visceral. Tão logo o espero. Tempo que batiza novas águas. Tempo que inaugura um novo tempo em mim...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 04/07/2010
Reeditado em 04/07/2010
Código do texto: T2356832