É VERDADE! EU MATEI A SOLIDÃO!

É verdade,

ontem a noite a solidão me levou para dar uma volta.

Eu bem que resisti, mas acabei convencido de seus argumentos,

bem plausíveis para o momento.

A cada milha percorrida,

percebi um monte de coisas,

que não só os babacas sentem solidão,

nem só os perdedores se sentem só,

não existe nada mais natural,

se sentir só, mesmo estando com alguém,

com amigos, nada mais natural.

Mas foi ficando chato.

Ela tentava toda hora me dar a mão,

e me levar mais distante,

não fiquei com medo, mas fiquei incomodado,

em ver sua mão gélida pousando sobre a minha,

não combina comigo, eu tinha que fazer alguma coisa.

Num momento de distração,

ela me abraçou, eu tentei me desvencilhar,

senti o abraço mais frio da minha vida,

pude ver todos que passaram em minha vida,

e todos os que eu magoei,

humildemente, a estes,

peço desculpas...

naquele momento, abraçado pela solidão,

vi além do que eu deveria ter visto,

e tive que tomar uma medida radical.

Dei dois tiros na cabeça da solidão,

a vi agonizante... e ri, ou melhor, gargalhei.

Acredito que essa aí não voltará mais,

limpei o sangue que espirrou em mim com minha camisa,

confesso que não prestei socorro,

fui embora mesmo da cena do crime,

não fugi, apenas fui olhando ela sucumbir,

e fui assoviando um triste requiem para ela,

guardei a arma na cintura,

e esperei o momento de prestar contas de meu crime.

Quando foi hoje de manhã,

uma tal dona realidade veio bater a minha porta,

me perguntou se fui eu o autor dos disparos,

se eu tinha ciência do que eu tinha feito,

e eu disse que sempre fui responsável pelos meus atos,

que poderia me dar a sanção necessária que eu não ia me omitir,

ela então me parabenizou,

com um sorriso nos lábios,

me disse, que então,

após eu assassinar a dona solidão,

sou finalmente um homem livre...

...vai entender?