- O vinho da cor de um falso vinho.

“e ele virou a taça...”

Eu ainda posso sentir o gosto, minha cabeça dói. Alguém me ajude! Está tudo embaçado, ela está sangrando... E a taça caiu. O que está havendo? Estou alucinado, não consigo falar, acho que vou [...]

***

Sentados em uma grande mesa, um casal de jovens ceiam. Dois seres misteriosos que trocam olhares de um canto ao outro.

Distante do assento dele, ela vagarosamente corta os punhos, seu sangue escorre feito torneira aberta. É um sangue quente e ruidoso, envenenado pela sede de morte. Pega sinusiosamente a taça de vinho e a leva até a boca, ele, brinca de dar sorrisinhos maliciosos e a acompanha, juntos bebem o vinho. O sangue agora escorre sobre a taça, mistura-se com o vinho e agora a bebida é fatal. Ela silenciosamente limpa o sangue com o lenço sobre as pernas, balança a taça com movimentos circulares como quem mistura algo, sente o cheiro e devolve o olhar ao seu amado. Afunda o dedo na mistura que lhe garante uma gota, lambe-o como quem quer provocar e através do paladar sente o quente veneno misturado. Suas mãos agora tremem, o coração bate lentamente, bate como se fosse uma bomba que após segundos estoura.

Levanta, com a taça na mão procura o colo de seu senhor. Ele rapidamente levanta, ela com muito esforço consegue chegar ao destino, é acolhida entre os fortes braços dele, sentam-se juntos numa só cadeira, acariciam-se delineadamente. A jovem oferece a taça a sua boca, bebe mais um curto gole, enxágua os dentes e desce até chegar ao âmago do seu ser, repousa sobre o colo dele, e ele amorosamente retira das mãos dela a taça, recolhe às narinas que tufam como um feroz lobo. Lentamente põe por entre os lábios, agora entreaberto e sente o adocicar do vinho e uma formicação em sua garganta, o canto da boca está molhado de vinho que escorre lentamente. Novamente vira a taça como um louco há dias com sede e a deixa cair. Algo toma conta do seu corpo, sensação involuntária sente, seus olhos arregalados olham a linda jovem. E a mesma dar-lhe adeus com um toque no rosto, eles adormecem juntos envenenados pelo vinho da cor de um falso vinho.

“e ela virou a taça...”

Belra Cross
Enviado por Belra Cross em 07/07/2010
Reeditado em 07/07/2010
Código do texto: T2363751
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