Lá vem Zé

Lá vem Zé, tombando prum lado, tombando pro outro. Caindo pra aqui, caindo pra ali.

Lá vem Zé, perdeu o caminho, seu pé tem espinho, perdeu a cabeça, nem é João Batista.

Lá vem Zé, ainda é cedo, luz calma nas costas, respira cachaça.

Lá vem Zé, chutando a lata, o dedo cortado, bermuda encardida.

Lá vem Zé, cabelo assanhado, soluço e tropeço, conversa sozinho.

Lá vem Zé, artista da vida, coloca no bolso o mundo e os sonhos.

Zé pende prum lado, Zé pendo pro outro.

Lá vem Zé, subindo a ladeira, abraça o poste, a rua tá turva, lá vem Gabriela.

Lá vem Zé, sem camisa, sem calça, sem chinelo, sem alça, só soluço, topada.

Lá vem Zé, esqueceu da mulher, o dia tá triste, vamo tomá uma!

Lá vem Zé, não sobe a ladeira, namora com a mosca, levanta o dedo.

Lá vem Zé, faz um discurso, olha pro alto, soluça, se encurva, tropeça.

Lá vem Zé, parece uma cobra, pra lá e pra cá, e ri pras paredes, entende de tudo.

Lá vem Zé, a mão calejada, uma vida sofrida, hoje tem feijão, café acabou.

Lá vem Zé, arroto, tropeço, soluço.

O mundo girou.

Formigas vermelhas.

Josué Mendonça
Enviado por Josué Mendonça em 11/09/2006
Reeditado em 12/09/2006
Código do texto: T237310