Reflexões autobiográficas

Nasci em Niterói, sou filha desta cidade.

Nela fui criada e, como meus irmãos, estudei em escolas particulares, fiz cursinho de inglês, informática, viajei, me diverti.

Sou mãe, esposa, mulher, e continuo eterna estudante.

Ao resgatar minha memória, resgato o passado de uma cidade, de um espaço/tempo que fez parte da minha vida, tendo com ele interagido intensamente.

Desato correntes que atam o passado, emprestando à narrativa, minha história de vida pessoal.

Repleta de dores e alegrias, medos e coragem - universo complexo do mundo infantil.

É a versão adulta sobre a experiência da menina que um dia fui.

É a versão resgatada da infância de muitas meninas que, como eu, iam à festas, brincavam em seus quintais, iam à escola...

Meninas e suas práticas cotidianas, hábitos e desejos.

Meninas e sua vida familiar, da classe média no Estado do Rio de Janeiro no final do século XX.

Memórias da infância emergindo através da releitura do que se foi.

Talvez por ter nascido em tempos apocalípticos, posto que faltavam aproximadamente duas décadas para o 3º milênio...

Ou pelo homem americano, em sua hegemonia napoleônica estar colonizando outros países e o próprio espaço...

Talvez pela derrocada do socialismo no leste europeu...

Pelos muros que caíram...

Pelas Alemanhas que se unificaram...

Devido aos cometas Halley que passaram...

E a Aura da desesperança de vida no planeta Terra...

Incerteza e Mistério.

O fato, é que minha infância foi povoada por seres extraterrestres, discos voadores, viagens interplanetárias.

Eu e meu irmão, dois companheiros inseparáveis de aventuras.

Crianças urbanas que éramos, nossas brincadeiras restringiam-se em alguns metros quadrados do nosso quintal.

Quintal, que hoje meu filho não tem.

Mas que foi de fundamental importância em minha vida de menina.

Fabricávamos naves.

Extrapolávamos a galáxia.

Estávamos à frente da própria NASA.

E os brinquedos da moda/mídia?

Possuíamos todos, e eram tantos e tantos que – passado o encantamento inicial - logo viravam enfeites de quarto.

Brinquedos lindos e tão perfeitos que brincavam sozinhos.

Nós ficávamos passíveis, perplexos e limitados a olhar.

Apenas um desses brinquedos fez parte de nossas vidas até atingirmos a adolescência.