Sonhos

Acordado sonho muito; dormindo, pouco. Lembro quase nunca do que sonhei.

Gosto de anotar, mas são raras as oportunidades: dez minutos bastam pra apagar a estória sonhada.

Por isso me meto a escrever: literatura é sonhar acordado. Ler é mergulhar em sonhos alheios (sonhos são líquidos); escrever é abrir (com)portas, para que mergulhem em meus sonhos.

Queria lembrar dos meus sonhos. Talvez eu passe a inventá-los; assim que acordar, direi, à mesa do café, que sonhei que voava. “Conseguiu pousar ou despencou e acordou quando ia se espatifar?”, perguntar-me-ão. Caí no mar, responderei, e, nadando, continuei a sonhar: sonhos são líquidos.

Bernardo Parreiras
Enviado por Bernardo Parreiras em 14/07/2010
Reeditado em 22/06/2011
Código do texto: T2376310
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