Poesia de bairro

Poesia de bairro é aquela toda desleixada, com cheiro de barro ou gosto de infância. Umidez de gramado deixado pela chuva recém-caída. Lá se vão pés descalços. A bola debaixo do braço. Para onde vão? Explorar todo campo. Com um chute bem alto, olham o céu. Está nublado. Quem sabe mais uma pancada de chuva? Não importa. Agora parou. Vizinhos aflitos passam por ali. Pisam devagar pelo barro molhado. Têm medo de levar uma bolada. E se levarem? Nada de mais! Bola de plástico. Poesia de bairro começa assim, tão simples, sem rima, metria infantil. Poesia de bairro cheira à saudade, coração inocente, que já partiu. Tudo isso, o bairro, o barro, o campo, pra falar de um tempo o qual o vento já dissipou. Hoje, engravatados, os mesmos meninos, falam do tempo, será que chove? Nada de importante ficou. Eu me pergunto: cadê a bola? Não há mais tempo. Meu filho não se suja de barro mais. E aqueles meninos tiraram dos filhos toda poesia que o bairro traz. Não era pra ser triste, era pra ter um final feliz. Mas sabe, a poesia até do bairro anda cansada. Nas nuvens de concreto, perdida, a simplicidade do bairro ficou desvirtuada. Poesia de bairro virou 'playground'.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 16/07/2010
Código do texto: T2381270