Auréola de fogo

Às vezes, sem querer, eu sinto: nós poderíamos ter vivido mais! Sem egoísmos ou excêntricos lirismos. Apenas vivido mais. Sem cartas de amor não escritas. Noites de insônia. Sem nossos poemas roxos de amor. Apenas vivido. Teríamos mais retratos. Rostos felizes. Eu não tenho retratos. Não me lembro de como era estar ao seu lado. Só me lembro que era bom. Mas nós não vivemos tudo. Não descobrimos juntos as constelações. Não beijamo-nos sob muitos céus estrelados. Não choramos. Não compartilhamos tudo o quanto possível. Não fizemos o inimaginável. Nós poderíamos ter vivido mais ao invés de nos recolhermos aos nossos romantismos. E os nossos retratos de felicidade? Idealizados por dramas. Escolhemos, então, a dor. E eu continuo não vivendo tanto quanto gostaria. Mas descobri, tão só quanto a última gota de orvalho antes do amanhecer, uma constelação por aí. Uma auréola de fogo. Não é o sol. É apenas um caminho novo...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 17/07/2010
Reeditado em 17/07/2010
Código do texto: T2382432