Onde está meu analista?

Preciso de um analista, de uma pessoa qualquer que me faça achar um resquício de sanidade na minha mente bagunçada. Alguém que desça de Freud um minutinho e me veja como um ser humano, ao invés de ser o caso número 712. Preciso de alguém que consiga abstrair a estante cheia de livros, o divã de couro preto e os óculos na ponta do nariz enquanto me pergunta: "como você se sente em relação a isso?" Preciso de um cúmplice, um comparsa qualquer que tome uma garrafa de vinho comigo e me ache linda e me chame de inteligente e divertida e diga que estou fazendo certo ao me dar 100% nessa nova velha relação. Não, não quero um caso furtivo. Não estou falando de flerte, nem de sexo. Quero só companhia. Sim, eu sei que deveria buscar isso de quem amo e creia-me eu tenho tentado, mas e se eu não puder entrar? Fico aqui, sentada no cantinho, olhando meus próprios pés, fazendo cara de choro e esperando o dia em que ele perceber que eu também fui ferida, magoada e que, não importa o tamanho das dores dele e minhas, mas sim o fato de restar amor depois de todo esse vendaval. Será que restou mesmo? Em mim, sim, mas já não posso afirmar sobre mais ninguém. Creio que sim, pelo olhar, pelo toque, pelas mágoas que vêm à tona.

Incrível como podemos virar prisioneiros da nossa própria mente. É isso que acontece com ele. Existe uma salinha recheada de frustrações, tristezas e afins. Essa porta, sim, está sempre aberta e receptiva, enquanto a outra salinha empoeirada, esquecida, jaz num cantinho qualquer como uma coisa natimorta. Essa sala chama-se credibilidade. Tenho minha porção de credibilidade nas pessoas, nas coisas, na vida e no amor. Tenho que ter. Afinal, o que me resta? Tenho duas opções: ou me faço crer e experimento o néctar do amor ou me atormento em dúvidas e fico com o fel da dúvida do "se" eu tivesse tentado... Optei pelo número 1, aos trancos e barrancos e me entreguei tão verdadeira, tão menina, tão desprovida de muros e barreiras que até pude sentir o gostinho da felicidade novamente. Mas ele não! Para cada momento feliz, lá vem a salinha abrindo-se novamente e despejando todo o seu conteúdo maléfico sobre ele e soterrando aquele momentinho único em que uma estrela até mesmo brilhou para nós. A cada despejo, uma nova punhalada nesse meu coração tão fraco, tão pálido. O que devo fazer? Sentar e esperar? Ir à luta? Mas devo lutar por uma causa que já nem sei se é minha? Devo canalizar tudo isso em lágrimas? E se eu me afogar? São tantas perguntas e onde anda esse meu tal analista???