O Gêmeo
- Está morto - o doutor anunciou enquanto baixava os olhos do irmão com a palma fria.
Arturo não disse nada, nem reagiu a está morto. A saliva entalava feito gomo na garganta comprimida. Os olhos queriam marejar. A partir dali: a escolha do caixão, o banho de defunto e a cova.
O irmão sempre viveu numa cova, mas diante do fato e do corpo, Arturo não podia considerar uma figura oportuna para dizer da morte, já que vida era cova. Irmão - sabia ele - era o igual, o companheiro.
Sem igual, que é mais natural que ser solo, sem espelho? Era fato consumado, mazela de destino ingrato - pensou.
Jesus sentiu tanta angústia que chorou lágrimas de sangue. E se sangue é dor, que é lágrima, não há razão para dizer do infortúnio com metáfora. Nem razão de sofrer com o consumado, nem de temer o já guardado. De teu que é, está guardado, ainda que no ventre abrigado.
De entalado que ficou, deixou a cabeça falir, a pergunta despir: de por que à para que? Tinha de viver, para saber.