Sem casa, sem dia...

Sem casa, sem dia...

Sinto-me assim:

Porta lacrada,

Sem sol sem janela,

Vazio de intenso habitar,

Hoje e há tempos,

Esse é meu verdadeiro lar.

Casa seca de alegria,

Sala sem cadeiras, sofá...

Quarto?

O que é que eu faço?

Vida é escassa e louca,

Sem camas nem aparatos, vida é pouca.

Espaço sem nexo,

Canto sem afeto,

Parede oca,

Vaga.

Cozinha não há,

Comida é só o desejar.

Jardim sem florada,

Nada é demasiado pouco,

Tudo é abundantemente muito,

Quando bastante é a ausência,

Intensa falta de tudo.

Não mesmo o que registrar,

Se não a tortuosa dor do carecer,

Um lugar sem eco ou calor,

Sem cheiro, cor ou razão,

Habito um naco vazio de emoção,

Há apenas esse meu vago existir...

A casa?

Uma esquina qualquer,

Reformou-se em pó da solidão,

Só o esperar repercute,

Um confiar inócuo de nem se o quê,

De ansiar e corroer,

De um ser que nunca vem...

Pétalas compactadas no caminho,

Lacradas a fogo no meu trancafiado coração,

Chave da porta que se perdeu,

Chave para que? De quem?

A casa, a casa nem portas têm...

# Inspirado nos versos do poeta “Poeta de classe média”, denominado "Sem Vida”,

Publicado no Recanto das Letras em 18/07/2010

Código do texto: T2385988

Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 24/07/2010
Código do texto: T2396736
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