O tolo e a coroa
Você me disse o quão alto era a montanha
E as dificuldades de alcançar-lhe o cume
Os caminhos do perigo nos instigavam
E, não importava os percalços, pedras, desvios e obstáculos
Pensava no clima, você no tempo, além de...
... Tentar me convencer a escalar com você
Sou destemido, já subi além da linha da árvore mais alta
Você, um pouco abaixo da linha das nuvens
De lá, ouvia o som da minha voz pedindo-lhe para descer
Não se comprometer com tanta coragem, não desprezar a vertigem
Enfrentar a multidão, gargalhar no campo de batalha
Usar a coroa ou cair na própria armadilha, o que mais quer provar?
Sei quem ultrapassou todas as linhas sem medo
Sou o marinheiro que ornou a proa com uma carranca
Quem enfrentou, denodado, a multidão incitada
Eu conheço o verdadeiro dono da coroa
Percebo, de longe, quando um tolo usa uma de brilhantes
Tomei o meu corpo em minhas mãos
E, como se estivesse diante...
... Diante de uma obra de arte, regozijei-me!
Afinal, onde aprendi a me conhecer assim?
*A Lima Barreto (13/05/1881 – 01/11/1922)