Amore

A palavra Proibida

Hão de convir comigo que em uma amizade a demonstração de carinho é primordial, digo, em qualquer relacionamento isso é sinônimo de boa educação, exceto se você é escritor e seu coração está frio a algum tempo. Amor é um grande contentamento, ou como dizia o tio Aurélio é o “sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa”. Eu confesso que desejei tão bem a alguém, não posso dizer quem, mas fui muito mais audaz, recorri ao velho amor itálico, o amore. Não é muito bom trazer coisas de fora para dentro de uma amizade, isso me cai bem, e sabe lá Deus o porquê d’eu inventar de adicionar esse substantivo na questão do outrem?

Amigos, amigos, amigos, durou pouco sabem? Logo baixou-se o decreto, estava em todos os muros, em todos os murais e já era capa de revistas: “Amore, a palavra proibida pelo ato institucional sentimental nacional”. Ora, eu pensava cá meus botões, nacional, pertencente ou relativo a uma nação, próprio dela, o que o meu amore tem a ver com isso? Amar, amor, ser amado, ah! Recordar é viver. Antero de Quental afirmou amar a grandeza misteriosa e vasta, Alberto de Oliveira dizia que amar ensina, até nosso velho e sábio Machado de Assis questionou “em que escritura, divina ou humana, já foi dado como delito amarem-se duas criaturas?” Ele tinha razão, nas escrituras sagradas diz-se respeito do amor como sentimento máximo e indispensável. Amigos, amigos e mais uma vez amigos. Não é bem esse amor de casal que eu me referia, eu volto a falar do amor como sentimento de ter afeição, devoção e o prezar alguém, independente de qualquer coisa, amar a fim de tornar o ser a qual se ama amor também, como dizia Fernando Pessoa "Quem ama, ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo." Se todos estes citados fossem dizer de amor aos itálicos possivelmente eles diriam o bendito do amore, coitados não sabem que hoje tal palavra foi suprimida dos lábios e dos dedos, sim, não se pode escrevê-la também, exceto se do par se é um dos elementos, que mesmo assim, eu duvido que a proibição não estabeleça algo que chamamos de “distanciamento verbal”, silêncio é palavra pesada neste caso, o distanciamento verbal implicará em formalidade demasiada, censura definida dos sentimentos alheios, volto a enfatizar que isso diz respeito aos que não estão circunscrito no relacionamento de um casal, de como não estou circunscrito no caso e estou argumentando por alertar,somente, que é muito possível que não haja grande mudanças. Todo questionamento corre o risco de ser mau interpretado e tido como ousado, talvez até em uma noite bem estrelada, onde os parnasianos afloram-se e amores se estendem, você poderá ouvir um “basta!”, não se espante, lembre-se que foi te avisado. Com tudo, perca um pouco da sensibilidade, evite sofrimentos, formalize mais, use de contra-argumentação, mas sobre tudo, nunca, jamais repita ou chame alguém de amore.

“...amemo-nos! espera!”

(Olavo Bilac)

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(Antero de Quental, Sonetos, p. 73); (Alberto de Oliveira, Poesias, II, p. 273); (Fernando Pessoa, Páginas de Doutrina Estética, p. 117); (Machado de Assis, Teatro, p. 253); (Olavo Bilac, Poesias, p. 151.)

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in "Confissões D'ele e Que Era Eu" - Pág. 23

Leonardo Martins Nietzsche
Enviado por Leonardo Martins Nietzsche em 14/09/2006
Código do texto: T240391